Polícia Civil e Polícia Militar apuram se PMs, policiais civis, agente penitenciário, um devedor ou integrantes de facção participaram do assassinato de empresário que delatou agentes de segurança e grupo criminoso.
Vinicius Gritzbach foi morto no Aeroporto Internacional de São Paulo Reprodução/TV Globo A força-tarefa da Secretaria da Segurança Pública (SSP) investiga três principais hipóteses para tentar esclarecer a execução de Antônio Vinicius Lopes Gritzbach, delator do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa que atua dentro e fora dos presídios. A Polícia Civil, a Polícia Militar (PM) e a Polícia Técnico-Científica apuram se policiais militares, policiais civis, um agente penitenciário, um devedor e integrantes da facção criminosa participaram da execução do empresário ligado ao ramo imobiliário (saiba mais abaixo).
✅ Clique aqui para se inscrever no canal do g1 SP no WhatsApp Até a última atualização desta reportagem, nenhum dos assassinos tinha sido identificado ou preso.
Vinicius foi morto na última sexta-feira (8) com dez tiros por dois homens não identificados e encapuzados no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, na região metropolitana.
Eles carregavam fuzis e atacaram o empresário na área de desembarque do terminal 2.
Câmeras de monitoramento gravaram o crime (veja vídeo nessa reportagem).
Um motorista de aplicativo também foi atingido por um disparo e morreu.
Outras duas pessoas se feriram.
Ao todo, foram 29 tiros.
Os assassinos fugiram.
As armas usadas por eles no crime foram abandonadas e encontradas depois pelas autoridades. A força-tarefa analisa as filmagens e ouve depoimentos de testemunhas e sobreviventes para identificar quem executou e quem mandou matar Vinicius.
O empresário e a namorada estavam voltando de uma viagem de Maceió, em Alagoas, para São Paulo.
No domingo (10), viajariam para Vitória, no Espírito Santo.
A companheira não foi atingida pelos disparos. Polícia tenta identificar assassinos que executaram o delator do PCC O Ministério Público (MP) acompanha as apurações.
A Polícia Federal (PF) abriu uma investigação própria do caso porque o ataque ocorreu no aeroporto, que fica sob responsabilidade da instituição.
A Guarda Civil Municipal (GCM) de Guarulhos apura por qual motivo seus agentes não estavam no local no momento da execução.
Vinicius Gritzbach se apresentava como empresário do ramo imobiliário, mas era réu na Justiça em dois processos: por lavagem de dinheiro para o crime organizado e também acusado por um duplo homicídio (saiba mais abaixo). Foi justamente por causa desses processos que Vinicius decidiu fazer uma delação premiada para revelar quem são os agentes de segurança e integrantes do PCC envolvidos num esquema ilegal de lavagem de dinheiro para o crime organizado. A Justiça homologou a delação com o Ministério Público em março.
Em troca, o empresário receberia uma pena menor, por exemplo, se fosse condenado pelos crimes.
E oito dias antes de ser executado, Vinicius fez uma denúncia na Corregedoria da Polícia Civil para denunciar agentes que estavam tentando extorquir dinheiro dele. Veja abaixo as principais linhas de investigação da força-tarefa para elucidar o caso, que é investigado como "homicídio, lesão corporal e localização e apreensão de objeto": Envolvimento de agentes de segurança Armas apreendidas após o assassinato de Antônio Vinicius Lopes Gritzbach no Aeroporto de Guarulhos. Divulgação PMs e policiais civis Vinicius tinha contratado policiais militares para fazer sua segurança pessoal.
O "bico" é considerado irregular pela Polícia Militar.
As autoridades querem saber se esses agentes têm algum envolvimento no assassinato.
Foram identificados oito PMs.
Todos eles acabaram afastados nesta semana pela força-tarefa.
Até a última atualização desta reportagem nenhum deles havia sido indiciado ou responsabilizado pelo crime.
Esses mesmos policiais militares já estavam sendo investigados um mês antes da execução pela Corregedoria da PM justamente por fazerem escolta para Vinicius, que tem ligação com o PCC. Os agentes afastados trabalham no 18º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (BPM-M), na Zona Norte de São Paulo, onde atua a maioria do grupo, e do 23º BPM-M, na Zona Oeste da capital paulista.
Em 31 de outubro, oito dias antes de ser executado, ele foi ouvido pela Corregedoria da Polícia Civil e denunciou agentes da instituição que estariam tentando extorquir dinheiro dele.
Os policiais denunciados trabalham no Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), no 24º Distrito Policial (DP), Ermelino Matarazzo, e no 30º DP, Tatuapé.
Agente penitenciário Um agente penitenciário investigado com Vinicius em um processo de homicídio, em que são corréus, também passou a ser investigado por suposta relação com a execução do empresário. Vinicius tinha 38 anos e era corretor de imóveis no Tatuapé, Zona Leste de São Paulo.
Há alguns anos, ele passou a fazer negócios com Anselmo Bicheli Santa Fausta.
Conhecido como Cara Preta, Anselmo movimentava milhões de reais comprando e vendendo drogas e armas para o PCC. Segundo o Ministério Público de São Paulo, Vinicius teria atuado para lavar R$ 30 milhões em dinheiro vindos do tráfico de drogas.
De acordo com fontes da Polícia Federal, a maior parte dessas operações de lavagem foi feita com a compra e venda de imóveis e postos de gasolina. Cara Preta e o motorista dele, Antônio Corona Neto, o Sem Sangue, foram assassinados, e Vinicius começou a ser investigado junto com o agente penitenciário como responsáveis por essas mortes.
Em março, o empresário fechou um acordo de delação premiada com o MP com a promessa de entregar esquemas de lavagem de dinheiro do PCC e crimes cometidos por policiais. Vinicius acusou um delegado do DHPP de exigir dinheiro para não implicá-lo no assassinato de Cara Preta.
Além disso, forneceu informações que levaram à prisão de dois policiais civis que trabalharam no Departamento de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc). Nesse caso do possível envolvimento dos agentes de segurança na execução de Vinicius, a suspeita das autoridades é a de que o empresário foi morto como "queima de arquivo".
Justamente porque poderia delatar mais profissionais da segurança, por exemplo. Procurada para comentar o assunto do possível envolvimento de um de seus agentes na execução do delator do PCC, a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) informou por meio de nota que "atualmente, o servidor responde a três processos administrativos disciplinares na pasta, que poderão levar à demissão do serviço público." Envolvimento de integrantes do PCC Em Ponto entrevista: promotor Lincoln Gakiya sobre PCC Outra linha de investigação é a de que ele possa ter sido morto a mando da facção criminosa por ter delatado quem eram os membros do PCC que faziam parte do grupo que lavava dinheiro.
Além disso, Vinicius estaria devendo cerca de US$ 100 milhões que seriam de Cara Preta.
Envolvimento de devedor Gritzbach levava uma bagagem contendo mais de R$ 1 milhão em joias e objetos de valor no momento do crime Reprodução E uma terceira frente de apuração trabalha com a possibilidade de que alguém teria decidido matá-lo por alguma dívida financeira.
Vinicius foi a Maceió cobrar dinheiro de uma pessoa, que lhe deu joias em troca.
Elas foram avaliadas em cerca de R$ 1 milhão. O homem que entregou as joias ao empresário passou a ser investigado também por suspeita de participar da execução de Vinicius. Segundo um de seus advogados, Vinicius chegou a pedir mais proteção aos promotores, em virtude de ter sido jurado de morte.
Mas esse pedido não teria sido atendido. Mas à GloboNews, o promotor Lincoln Gakiya disse que Vinicius recusou as ofertas de segurança feitas a ele.
Segundo o MP, o delator alegava que podia bancar a própria segurança e não queria abrir mão do estilo de vida que levava.
Ao entrar no programa de proteção, ele precisaria mudar de casa e deixar de conviver com a família e amigos. Segundo a Promotoria, para se proteger, o empresário contratou cinco policiais militares para fazerem sua escolta particular.
Quatro deles tinham ido ao aeroporto se encontrar com Vinicius, mas não estavam com ele quando foi morto.
Os agentes foram ouvidos pela força-tarefa e disseram que um dos carros usados para buscar o empresário teve um problema na ignição. O quinto PM viajava com o empresário, mas disse à investigação que, quando ouviu o barulho de disparos, se escondeu atrás de um ônibus estacionado.
À Corregedoria, ele explicou que estava em desvantagem, por isso decidiu proteger a própria vida. Os PMs também são investigados pelo Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa.
A investigação está refazendo os passos deles, seguindo o trajeto antes de o carro supostamente quebrar, além de extrair dados dos celulares dos PMs. Força-tarefa vai investigar execução de delator do PCC em SP Motorista morreu no ataque Celso Araujo Sampaio de Novais, de 41 anos, motorista de aplicativo baleado em Cumbica Acervo pessoal O ataque a tiros contra Vinicius causou a morte dele e também de do motorista por aplicativo Celso Araujo Sampaio de Novais, de 41 anos.
Ele foi atingido nas costas por um tiro de fuzil. Celso chegou a ser socorrido e internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Geral de Guarulhos, mas não resistiu.
Ele foi enterrado na segunda (11) em um cemitério de Guarulhos.
Deixou a esposa, Simone, e três filhos, de 20, 13 e 3 anos. Um funcionário terceirizado do aeroporto, que teve ferimentos na mão, e uma mulher de 28 anos, atingida por um tiro de raspão no abdômen, foram socorridos e receberam alta. Veja o que se sabe sobre dinâmica do atentado Arte/ g1