Ubatuba, Caraguatatuba e São Sebastião estão entre as cidades mais afetadas pelo avanço do oceano.
Destruição de ecossistemas pode levar à diminuição da biodiversidade.
Praia Ubatumirim, em Ubatuba Divulgação/GBMar Um estudo da Climate Central, ONG norte-americana que desenvolve pesquisas sobre os impactos das alterações climáticas, revela que diversas cidades litorâneas de São Paulo correm o risco de serem engolidas pelo mar devido à erosão costeira.
Segundo a análise, cerca de 40% da costa brasileira já enfrenta os efeitos do aumento do nível do mar, reduzindo não apenas o espaço das praias, mas também a vegetação e as edificações.
Para entender melhor essa situação alarmante, o Terra da Gente entrevistou o oceanógrafo Marcus Polette, especialista em Gestão da Zona Costeira. De acordo com o professor da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), o avanço do mar é impulsionado por uma combinação de fatores naturais e ações humanas.
“Mudanças climáticas, como o aquecimento global, alteram o nível do mar, mas atividades como a retirada de areia e a construção de barragens também contribuem significativamente para a erosão”, explica.
Praia Grande, em Ubatuba (SP), é uma das mais afetadas pela erosão costeira Francisco Trevisan No litoral paulista, diversas cidades têm implementado medidas como barreiras submersas e muros de contenção, além do uso de sacos de areia.
No entanto, segundo o especialista, essas iniciativas precisam ser parte de uma abordagem mais abrangente.
“É essencial que as políticas públicas sejam integradas e adaptadas às realidades locais”, enfatiza. O Mapa de Risco à Erosão Costeira do Estado de São Paulo, elaborado pelo Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) em 2017, já catalogou áreas que podem ser invadidas.
As cidades de Ubatuba, Caraguatatuba e São Sebastião, entre outras, estão entre as mais afetadas. Implicações socioeconômicas As implicações da erosão costeira vão além da perda de espaço físico, pois afetam a economia local, a infraestrutura e a qualidade de vida das comunidades.
A destruição de ecossistemas costeiros pode levar à diminuição da biodiversidade e à perda de recursos pesqueiros, afetando diretamente as populações que dependem da pesca e do turismo. Aumento do nível do mar reduz não apenas o espaço das praias, mas também a vegetação Diogenes Pandini/NSC “É crucial que os governos e as comunidades desenvolvam planos de adaptação que não apenas mitiguem os impactos imediatos, mas também promovam a resiliência a longo prazo”, afirma Polette. O caso de Atafona: um alerta para o futuro Um exemplo emblemático da crise de erosão é a cidade de Atafona, localizada no município de São João da Barra, no estado do Rio de Janeiro.
Atafona enfrenta problemas severos de erosão, resultando na destruição de casas e na perda de terras.
“O caso de Atafona é um alerta para outras cidades litorâneas.
A combinação de barragens rio acima e a destruição de ecossistemas costeiros, como dunas e restingas, intensificou a erosão na região”, comenta Polette. Para evitar que o mar avance ainda mais sobre as casas em Atafona, a Prefeitura de São João da Barra reforçou a contenção de areia Reprodução/Prefeitura de São João da Barra A situação de Atafona, onde a urbanização ocorreu em áreas vulneráveis, mostra como a falta de planejamento pode resultar em consequências desastrosas.
“É um exemplo claro de que o crescimento desordenado, sem considerar os riscos ambientais, pode levar a um passivo econômico e social significativo”, acrescenta o oceanógrafo. Atafona é onde o Paraíba do Sul encontra o mar e a 'Terra dos Ventos' fluminense Reprodução/TV Globo Desafios na Gestão Costeira Para enfrentar a erosão, Polette destaca a importância de um planejamento urbano adequado.
“Os Planos Diretores municipais devem incluir a proteção de ecossistemas costeiros, como dunas e restingas, além de considerar a Mata Atlântica”, afirma.
Mudanças climáticas, como o aquecimento global, alteram o nível do mar Reprodução/TV Globo O oceanógrafo reforça também a necessidade de um Projeto Orla bem estruturado e de Planos Municipais de Adaptação às Mudanças do Clima, que abordem a vulnerabilidade das comunidades costeiras. Em regiões como Itajaí e Navegantes, ambas em Santa Catarina, que foram construídas sobre várzeas, o planejamento urbano deve ser ainda mais rigoroso.
“As cidades devem evitar ocupações em áreas de risco e priorizar a restauração de ecossistemas que ajudam a proteger a costa”, sugere Polette Educação e mobilização comunitária A mobilização das comunidades locais é um componente crucial na luta contra os efeitos da erosão.
“Programas de educação ambiental são fundamentais para conscientizar a população sobre a importância da conservação das áreas costeiras”, destaca.
“Além disso, é vital que as comunidades participem ativamente na coleta de dados sobre mudanças climáticas, contribuindo com conhecimento local que pode enriquecer as pesquisas”, completa o pesquisador. Exemplo internacional Para o professor, a França, que há décadas adota estratégias eficazes para proteger suas zonas costeiras, serve como um exemplo a ser seguido.
Erosão na costa de Biarritz, na França Projeto Clamer e Agência Europeia de Meio Ambiente “O Conservatório do Litoral francês, por exemplo, adquiriu áreas costeiras ameaçadas para garantir sua preservação.
Enquanto isso, no Brasil, enfrentamos propostas como a PEC das Praias, que busca privatizar terrenos de marinha, o que pode agravar ainda mais a erosão e a degradação ambiental”, critica Polette. Ele acredita que o Brasil precisa aprender com as experiências internacionais e implementar políticas que realmente protejam o litoral, em vez de favorecer interesses privados.
“A proteção do litoral deve ser uma prioridade nacional”, conclui. VÍDEOS: Destaques Terra da Gente Veja mais conteúdos sobre a natureza no Terra da Gente