Ex-presidente concedeu entrevista nesta sexta (2) à imprensa estrangeira.
Petista disse ainda que senadores a condenaram à 'pena de morte política'.
Dilma concede entrevista a jornalistas de veículos estrangeiros no Palácio da Alvorada (Foto: Reprodução / Facebook) A ex-presidente Dilma Rousseff afirmou nesta sexta-feira (2), durante entrevista a jornalistas de veículos estrangeiros, no Palácio da Alvorada, que achou "estranhíssima" a dupla votação no julgamento final do Senado que aprovou seu afastamento do comando do Palácio do Planalto, mas manteve sua elegibilidade. A petista questionou, principalmente, o fato de 16 senadores terem se posicionado a favor do impeachment na primeira votação e terem rejeitado, em uma segunda consulta por voto, que ela ficasse impedida de concorrer a cargos eletivos e ocupar funções na administração pública. Em outro trecho da entrevista, Dilma afirmou que a aprovação do seu afastamento do governo representou sua "pena de morte política" e a decisão que autorizou que ela possa vir a ocupar funções públicas "não atenua" isso. "Eu acho que é estranhíssima essa dupla votação.
Esta é a discussão.
Vota de um jeito numa votação e depois vota de outro em outra? Em Minas, a gente ficaria desconfiado.
Nós mineiros somos muito desconfiados.
Acho que a estrada de votos é muito tortuosa", declarou a ex-presidente. Embora tenha feito um pronunciamento à imprensa horas após a decisão do plenário, esta foi a primeira entrevista de Dilma como ex-presidente da República. "Você tem um impeachment sem crime de responsabilidade, afasta uma pessoa inocente do cargo e, além disso, tira os direitos políticos por 8 anos também sem crime? E, aí? O que acontece? O maior contrato que existe neste país, que é entre o governo e seu povo, é rompido de todas as formas.
Não acho que [a manutenção da elegibilidade] atenua ou não atenua o que eles fizeram, não acho.
Acho oque são detalhes e decorrências do que fizeram.
Poderiam ter feito diferente.
Me condenaram à pena de morte política ao me tirar da Presidência.
Está é a maior pena que um brasileiro pode ter", declarou. Em outro trecho da entrevista, Dilma mencionou o agora presidente da República Michel Temer e afirmou que, se ele não cumprir o programa de governo prometido por ela durante a campanha de 2014, fará um governo "ilegítimo". "Eles começaram a executar [antes mesmo do impeachment] um programa de governo que não tem o menor respaldo das urnas.
Não foi este o programa de governo que eles estão implementando que me levou [à presidência] e levou comigo junto o vice [Temer].
Não foi este.
Se ele se dá o direito de utilizar a Vice-presidência para assumir a Presidência, tem também de usar a condição de vice para cumprir o programa que me deu o mandato nas urnas.
caso contrário a ilegitimidade é total", afirmou. Oposição a Temer Questionada sobre se tem "projetos políticos" para o futuro, Dilma afirmou que não tem projeto político eleitoral, mas fará "oposição" a Temer. "Não tenho projeto político no sentido eleitoral, não tenho isso elaborado.
Tenho um projeto político no sentido de que farei oposição ao governo [Temer], independentemente de onde esteja", enfatizou. Dilma durante entrevista à imprensa estrangeira no Alvorada (Foto: Reuters/Ueslei Marcelino) Lula Dilma também foi questionada pelos correspondentes estrangeiros sobre se há "mágoa" entre ela e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva porque na quarta-feira (31), quando ela fez sua primeira manifestação pública após o Senado aprovar o impeachment, ele não estava ao lado dela, mas, sim, no mezanino do Palácio da Alvorada. Dilma negou qualquer mal-estar e disse que seu padrinho político não estava ao lado dela somente porque havia um tumulto de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas ao redor dela. "Vocês podem continuar insistindo, o que já fazem desde o primeiro dia que assumi, nessa conversa.
O presidente Lula não estava ao meu lado porque vocês viram o tumulto que foi, isso não tem pé nem cabeça [dizer que há mágoa entre eles]", destacou a ex-presidente. "Não só o Lula ficou aqui comigo em todos os processos, como ele esteve presente comigo, acompanhou a votação comigo, esteve presente comigo em todas as circunstâncias.
Ele foi ao Senado [assistir ao depoimento], me encheu de apoio e carinho e, por ele, eu tenho imensa consideração, além de política, pessoal.
Sugiro que vocês desistam, é uma perda de tempo tentar me indispor com o presidente Lula", complementou. saiba mais Cardozo diz que moverá outra ação no STF contra impeachment de Dilma PT anuncia defesa de eleições diretas já para presidente Partidos da base acionam STF para tentar anular elegibilidade de Dilma Veja quem votou 'sim' para a saída de Dilma, mas 'não' para a inabilitação Mudança para Porto Alegre Em meio à entrevista, Dilma informou que pretende se mudar para Porto Alegre após deixar o Palácio da Alvorada, mas informou que só deve deixar a residência oficial da Presidência no início da semana que vem. No dia em que o Senado aprovou o impeachment, a assessoria da petista informou que ela sairia do Alvorada até o fim desta semana.
Dilma explicou que vai adiar um pouco a mudança porque tem que levar todos os seus pertences que estão na residência oficial.
"Isso requer um pouco de logística e suor", ressaltou. A presidente disse ainda que há a possibilidade de ela "ficar um tempo" no Rio de Janeiro, cidade onde a mãe dela, Dilma Jane, tem um apartamento.