Ex-vocalista e músico do Skank comemora nova fase pessoal e profissional: 'Dos momentos mais felizes da minha vida'.
O cantor e compositor Samuel Rosa Lorena Dini Com o violão nos braços, Samuel Rosa parece deixar os pensamentos fluírem livres.
Enquanto afina o instrumento e toca descompromissado, as lembranças surgem espontaneamente, sem perguntas.
“O pessoal quer saber das referências para este álbum.
É engraçado que tem músicas que acho que têm alguma coisa do Lô [Borges].
Tem outras que acho que são do Erasmo.
Não Tenha Dó tem um refrão que é muito Erasmo”.
Enquanto toca e canta trechos da música, ele comenta: “Queria poder mostrar isso para ele”.
Não Tenha Dó e outras nove músicas compõem "Rosa", o primeiro álbum solo do cantor e compositor mineiro.
Há mais de 30 anos, ele é associado imediatamente a uma das bandas de maior sucesso do país, o Skank.
O último show do grupo foi em março de 2023.
O Skank se desfez por vontade do próprio Samuel.
Ele conta que tomar as rédeas da carreira e poder decidir seus rumos à vontade foi assustador no início.
“Imagina, você compõe e cria com a mesma turma durante 30 anos, todo mundo se conhece.
A banda tem uma identidade, tem uma assinatura.
Quando ela vai para o estúdio, é só reafirmar aquela assinatura.
E agora? Eu me vi pequenininho diante de uma tela branca que eu tinha que preencher inteira.
Tantas possibilidades te intimidam um pouco.” Depois de mais de 30 anos de sucesso no Skank, Samuel Rosa trilha novo caminho em carreira solo 'Dica' de Paul McCartney Assunto recorrente nas conversas com Samuel Rosa, o ex-beatle Paul McCartney (“O cara é um monstro, acima dele, só Deus!”, exclama o brasileiro) ajudou nos passos pós-Skank sem nem saber disso.
Foi em 2023, em Brasília, durante um show secreto de Paul no Clube do Choro, para poucas centenas de convidados.
“Eu brinco que tive essa epifania quando o vi se rendendo à grandeza da própria obra, quando ele tocou Hey Jude.
Ali, aos 82 anos, era como se ele dissesse: ‘Essa obra é maior do que eu’.
Ele a compôs aos 20 e tantos anos.
Eu acho que a mensagem era: ‘Faça o que você sabe fazer’.
Isso me libertou.
Fui compor sem pensar se era inovador ou não, se parecia com Skank ou não.
Só fui compor do jeito que eu sei.” Samuel relembra as discussões com executivos da antiga gravadora, no início do Skank, que consideraram “adultas demais”, nas palavras dele, as músicas do álbum Calango, de 1994.
“A gente não forjou uma linguagem, a gente não usava ‘gírias da época’, sabe? E também não eram infantiloides.
Talvez por isso as músicas do Skank tenham ficado tão atemporais.
A gente falava com o nosso sotaque.
Isso foi forjado muito pelo Chico Amaral também, que era um grande parceiro na época”.
A tal epifania com Paul McCartney fez com que Samuel, pela primeira vez, escrevesse a maior parte das letras de suas músicas, papel quase sempre de parceiros durante a carreira do Skank.
“Rolou uma fluência que eu experimentei poucas vezes”, afirma.
Parceiros Samuel Rosa é responsável pelas melodias de todas as músicas e, sozinho, assina quatro canções do novo álbum.
Entre elas, Segue o Jogo, com letra que pode se referir tanto ao fim de um relacionamento, quanto, quem sabe, ao término de bandas.
“Eu sei que até pode parecer loucura, ou um erro meu, mas é assim que será.” Ele conta que fez 20 canções ao todo, mas optou pelas 10 mais representativas do seu momento.
O parceiro mais recorrente é o paulistano Rodrigo Leão, antigo colaborador do Skank, que assina com a banda o megahit Saideira, de 1998, entre outras músicas.
“Acho um baita letrista.
Refinado e elegante.
Ele sabe brincar na hora de brincar, como foi com Saideira.
Com ele, eu fiz uma das músicas do Skank que eu mais gosto que é Formato Mínimo, lá do Cosmotron, de 2003.” “Aí tem o Carlos Rennó, cara.
Ele é da Lira Paulistana, tabelou com gente do quilate de Gilberto Gil, Lenine, Pedro Luís.
Fizemos cinco músicas e entraram duas, Me Dê Você e Bela Amiga.
E tem o João Ferreira, da novíssima geração, que é da Daparte [banda do filho de Samuel, Juliano Rosa] e que está escrevendo para muita gente.
Um garoto que tem a caneta muito boa.” Pedro Pelotas (pianista e ex-Cachorro Grande) assina Ciranda Seca (Dinorah) ao lado de Samuel e Leão e acompanha a banda na nova turnê.
Falando sobre o rápido processo de composição e gravação de "Rosa", Samuel divaga novamente sobre a música “meio Erasmo”, Não Tenha Dó.
“Falei para o meu produtor que ela parecia um The Last Shadow Puppets tropical.” Ele se refere ao projeto paralelo dos ingleses Miles Kane e Alex Turner, do Arctic Monkeys.
“Ele procurou o cara e me ligou: - Arrumei alguém para fazer as cordas que você queria em Não Tenha Dó.
- Quem é? - O cara que fez as cordas do Last Shadow Puppets, pô!’” De fato, o canadense Owen Pallett topou participar à distância da produção e do arranjo de três músicas do álbum.
O cantor e compositor Samuel Rosa Lorena Dini Motivação Ao se despedir do Skank, Samuel afirmava que tiraria um tempo de férias para descansar.
No entanto, no último ano, seus dias foram movimentados.
Além de reunir uma nova banda, ele se apresentou mais de 40 vezes pelo país em 2023.
O disco foi feito já em 2024.
Em meio a tudo isso, Samuel viu o nascimento de sua terceira filha, Ava, em março deste ano.
O mergulho na incerteza da carreira solo que havia intimidado Samuel no ano passado parece ter encontrado tranquilidade.
“Eu estou muito motivado.
Uma motivação que talvez eu não tivesse se estivesse agora gravando, sei lá, o 20º disco do Skank.
É uma banda nova se conhecendo, com cara de namoro novo.
Então isso dá um estímulo." "A Ava estava para nascer, enfim.
Você pensa que um garoto de 20 anos pode dizer: ‘Eu estou vivendo o melhor momento da minha vida’ e dá risada.
Mas para um cara que, como eu, está entrando no seu último terço de vida, eu olho para trás e posso dizer com total segurança que eu estou em um dos melhores momentos da minha vida”, afirma o cantor, que completou recentemente 58 anos. Nova turnê, projetos e bandas O pontapé oficial para a turnê de divulgação de "Rosa" será nesta sexta-feira (2), em São Paulo.
No repertório estarão as músicas novas, as do Skank e outras.
“A intenção era sair da banda e não abandonar as minhas músicas.
No show, você percebe o grau de parentesco delas com as músicas que fiz na minha história.” No palco, Samuel também vai revezar versões de trabalhos com outros artistas.
A reação do público que mais surpreendeu o músico foi com Tarde Vazia, do Ira!, música que contou com participação dele no Acústico MTV da banda paulista, em 2004.
“Não achei que ela fosse tão conhecida por tanta gente.” Ao encerrar a conversa, pergunto sobre o futuro e sobre quais artistas Samuel Rosa tem ouvido.
“Aqueles que gosto muito, como Jorge Ben, Erasmo Carlos e Clube da Esquina, eu nunca paro de escutar.
Mas a atual safra brasileira é muito boa.
Já tabelei e pretendo acirrar isso agora.” Ele cita os também mineiros Marina Sena, Djonga, Lamparina e Lagum - “BH tá numa fase muito legal”-; as paulistanas Terno Rei e O Grilo; e Anavitória, Jão, Vitor Kley e Duda Beat.
No cenário internacional, ele destaca a banda inglesa Temples e a americana The Lemon Twigs.
Sobre Seu Jorge, nome que já não é da nova geração, Samuel deixa escapar: “Nós estamos com um projeto, mas não posso falar ainda”.
O mineiro encerra a conversa confessando que estranha, mas gosta da nova dinâmica de um lançamento apenas digital, suas repercussões instantâneas e a infinidade de veículos e plataformas que se dedicam a cobrir e comentar música.
“Antigamente, a gente só lia alguns críticos e queria saber quantas estrelinhas eles tinham dado para a gente.” “É imperativo eu falar com as pessoas da minha geração e também com as mais novas.
Acho que o Skank fez isso quando rompeu com o reggae radiofônico, bem-sucedido, que habitava as rádios nos anos 90, e partiu para uma música sem metais, com mais violão, carregando nas guitarras e nos teclados.
Era um convite ao movimento.
É o que estou propondo agora.
Convido as pessoas a virem comigo.” Serviço Samuel Rosa Tour Quando: Sexta (2), a partir das 22h Onde: Espaço Unimed | Rua Tagipuru, 795, Barra Funda, Zona Oeste Quanto: De R$ 70 a R$ 280 Mais informações no site